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Oftalmologia: uma visão aprofundada sobre o tema

Com o passar do tempo, obviamente houve considerável evolução da técnica. Em meados do século XX, a especialidade deixa de ser exclusivamente clínica, eminentemente de prescrição de lentes corretivas ou de medicações para tratamentos de doenças externas e infecciosas, e assume também uma característica cirúrgica. As informações são do médico oftalmologista Marcello Fonseca. “A partir da metade do século, começou-se a encontrar soluções muito inteligentes para o que se imaginava que não havia condições de corrigir”, afirma o especialista.  Foi a partir da metade do século XX, entre os anos 50 e 70, que surgiram os primeiros implantes de lente intraocular para substituição do cristalino. 

Fonseca destaca que, num período mais recente, anos 80 e 90, a partir do momento em que a eletrônica passou a estar cada vez mais presente na medicina, a oftalmologia se beneficiou com o surgimento dos lasers, das fórmulas para cálculos biométricos, aparelhos de ultrassom modernos e com melhor definição. “A cirurgia da catarata é meramente uma cirurgia de limpeza ou remoção do cristalino que deixou de ser transparente do eixo visual. A técnica cirúrgica evoluiu grandemente depois do implante das lentes e hoje a cirurgia de catarata é realizada para construção do caminho transparente da luz dentro do olho, mas também corrige grau. Boa parte dos pacientes consegue sair de uma cirurgia de catarata sem a necessidade ou com uma mínima necessidade do uso de óculos”, afirma Fonseca.

Além dessas, outras evoluções consideráveis podem ser citadas como, por exemplo, o transplante endotelial de córnea. “Hoje os transplantes passaram a ser de parte da córnea e não da córnea inteira. Transplantamos apenas as camadas superficiais da córnea”, esclarece Fonseca. “Para as doenças de endotélio, transplantamos apenas o endotélio”, complementa. Ele relata que antigamente a cirurgia era penetrante, com a necessidade de corte de 100% da espessura da córnea e substituição por outra doada proveniente do banco de olhos, com um pós-operatório que poderia levar até um ano. “Hoje conseguimos fazer um transplante apenas das células endoteliais e com uma recuperação de duas semanas no máximo”, diz o médico, ressaltando que o transplante ainda está evoluindo. Segundo ele, existe a possibilidade de, num futuro próximo, se conseguir semear as células da córnea do paciente e implantá-las nele próprio, anulando a possibilidade de rejeição. 

A nanotecnologia e os avanços no setor oftalmológico

Outra técnica que teve evolução considerável com o decorrer do tempo foi a cirurgia do glaucoma. Inicialmente o tratamento era feito a partir do uso do colírio pilocarpina. Caso esse procedimento não desse certo, era necessário fazer um furo no olho, cirurgia que criava um caminho alternativo para o humor aquoso, líquido presente dentro do olho. No entanto, essa técnica invasiva não deixava de ser, basicamente, um buraco no olho. Após algum tempo, passou a ser usado o colírio timopitol e hoje a evolução permite a possibilidade de colocar um stent dentro do globo ocular. “Graças à nanotecnologia, são microstents, microscópicos que se implantam dentro de um canalzinho chamado canal de Schlemm”, relata o oftalmologista.

Fonseca também dá ênfase para o início da técnica com cirurgias microinvasivas do glaucoma. “Ainda estão no início, mas são técnicas muito promissoras. Todas as áreas da oftalmologia estão evoluindo muito, assim como todas as áreas da medicina”, descreve. Na opinião do médico, assim como outras áreas da medicina e outros setores em geral, a evolução na oftalmologia ocorre na medida em que a tecnologia evolui.

Um dos problemas de visão mais comuns na população, a miopia, até não muito tempo atrás, em meados da década de 80, era corrigido através de procedimento feito com faca de diamante. Somente no início da década de 90 chegou ao Brasil o primeiro laser para correção do problema da miopia. “Hoje não tem mais cabimento falar em corrigir miopia com faca de diamante. No entanto, a oftalmologia se tornou uma medicina cara. Uma faca de diamante, que custava 2500 dólares, foi substituída por um laser, que custa 800 mil euros. Um stent começa em quatro ou cinco mil reais, o mais simples. Toda a medicina melhorou muito, mas o grande desafio é fazer essa medicina evoluída, a oftalmologia moderna, caber no bolso de todo mundo, das operadoras de saúde, dos pacientes, dos hospitais e dos profissionais médicos que precisam estar com os equipamentos e máquinas disponíveis”, pondera Fonseca. 

Medicina e os desafios para o futuro

De acordo com Marcello Fonseca, a medicina passa periodicamente por novos desafios. Entretanto, na visão dele, um grande desafio daqui adiante é resolver a equação financeira que envolve a medicina e permitir a evolução. Continuar trazendo melhorias para a medicina e fazer com que as pessoas consigam arcar com isso, pagar esse custo. “Existe a questão da economia de escala. Quando se usa uma tecnologia para um grande número de pacientes, ela tende a baratear. São mais centros com tecnologia, consumindo mais, mais equipamento, então a tendência é baratear”, esclarece Fonseca.

Ele conclui com a afirmação de que há a necessidade, além da tecnologia, da formação de médicos de boa qualidade para atender a população do Sistema Único de Saúde (SUS). “Você pode ter o melhor carro de Fórmula 1 do momento, mas se você não tiver uma boa formação, não vai pilotar da melhor maneira”, exemplifica Fonseca, em destaque sobre a forma como os médicos devem estar bem preparados para lidar com os desafios.

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